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Parlamentares da reforma agrária visitam China e confirmam ‘muito em breve se tornará a maior potência do mundo’

O intercâmbio é mais uma das ações da parceria Brasil-China

Uma delegação de sete parlamentares ligados ao Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e atuam na pauta da reforma agrária de diferentes regiões do Brasil realizaram uma visita à China, com o objetivo de conhecer as políticas e experiências de revitalização rural e combate à pobreza, além de fortalecer a cooperação no âmbito da agricultura familiar, principalmente, nas áreas de mecanização agrícola e produção de bioinsumos. O intercâmbio é mais uma das ações da parceria Brasil-China que está testando o uso de tratores chineses em assentamentos de reforma agrária no Nordeste. E para falar mais sobre essa experiência e sobre os aprendizados adquiridos durante a realização do intercâmbio, o Brasil de Fato conversou com Missias Dias, também conhecido como Missias do MST, deputado estadual pelo PT Ceará e que participou dessa iniciativa.

Confira a entrevista.

Brasil de Fato: Como surgiu a ideia ou o convite para participar desse intercâmbio?

Missias Dias: O MST já tem um trabalho na China. Outros dirigentes do MST já estiveram lá a partir dessa relação. O MST já está discutindo ações concretas e que já estão sendo realizadas no Brasil, a exemplo do Consórcio Nordeste. Aqui, nós temos 38 máquinas vindas da China, nessa parceria para os Sem Terra poderem conhecer seus território de reforma agrária e poder, nesse debate que estamos fazendo com a China, fazer a transferência de tecnologias para os nossos estados, em parcerias como o Consórcio Nordeste, os governadores do Nordeste, mas a nossa intenção é espalhar para todo o Brasil.

Nós fomos lá, com a universidade, conhecer um pouco o trabalho que já vem sendo realizado com a experiência com as empresas de maquinário chinês para que nós possamos abrir aqui no Brasil as primeiras fábricas, que nós queremos, inclusive, no estado do Maranhão, Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba, como também o debate dos bioinsumos, que nós já estamos dialogando com a Universidade de Brasília.

Qual foi o objetivo desse intercâmbio?

Nós fomos visitar algumas empresas de tecnologias. Nós estivemos nas maiores empresas que hoje produzem maquinários agrícolas na China para conhecer suas tecnologias. Depois nós fomos conhecer empresas que produzem bioinsumos e biofertilizantes a partir das tecnologias desenvolvidas na China. Nós fomos in loco conhecer as empresas, as fábricas, depois fomos conhecer o diálogo com os camponês, lá na ponta, entender como se dá todo esse processo da cadeia produtiva.

Nós tivemos a oportunidade de dialogar com a Embaixada do Brasil e com o Consulado do Brasil para que eles possam nos ajudar a fortalecer essa parceria entre Brasil e China. Na oportunidade, também colocamos uma agenda com a ex-presidenta Dilma Rousseff. Ela está nessa parceria, para que o Novo Banco de Desenvolvimento [Banco do Brics] nos ajude a financiar, aproximar do sonho que nós estamos querendo, que é a realização das fábricas de tratores, das fábricas de bioinsumos.

E nessa conversa com a Dilma fizemos o debate da gente trabalhar com a energia solar para os pequenos agricultores. E outro debate importante que fizemos foi a informatização na agricultura.

Foto: MST/ Divulgação

Após esse intercâmbio, quais os maiores avanços que você acredita que podem chegar às famílias que vivem no campo não só no Ceará, mas no Brasil?

O que a gente percebe da China, e que para nós, aqui do Brasil, o ideal seria primeiro fazer a reforma agrária. Infelizmente, no Brasil, 1% dos proprietários de terras do Brasil detém e domina 46% da terra do Brasil. É um dado vergonhoso. Depois, a China eliminou a pobreza e a fome. Nós temos no Brasil 33 milhões de pessoas passando fome numa população de 209 milhões de pessoas, enquanto a China tem 1,4 bilhão de pessoas, é muito diferente, e o território de lá é quase do tamanho do nosso, então é uma diferença muito grande que eles já avançaram sobre isso.

Eles também têm a estratégia de que todo chinês tem que ter educação, tem direito à moradia. Você não vê um sem teto, você não vê ninguém em situação de rua, você não vê ninguém pedindo esmola. O que a gente pode tirar como lição dentro desse processo é que o Brasil precisa avançar muito para chegar no patamar de que a China chegou. Além disso, eles estão muito preparados para a inovação, para a tecnologia.

Para eles, o meio ambiente também é importante. Acho que é tudo o que nós queremos no Brasil, principalmente nós, do MST, é ter a oportunidade do nosso povo ter dignidade, preservar nossa vida, a natureza, o meio ambiente, os bens naturais que nós temos, garantir que todo mundo tenha direito à educação.

Ainda há uma visão, por parte de uma parcela da população, de que a China é um país onde a população passa fome. Depois desse intercâmbio, de tudo o que viu e vivenciou na China, o que você diria para essa parte da sociedade?

A China é uma potência. A China hoje é uma referência de solidariedade, de modelo de gestão de planejamento de muita eficiência. É referência em tecnologia voltada, inclusive, para os temas que debatemos no Brasil que é tão distante, como o meio ambiente, produção de alimento saudável, garantia de inclusão, diminuição da pobreza e da miséria. A China superou a questão de que todo mundo tem que ter uma casa, todo mundo tem direito à educação, todo mundo tem que ter direito à saúde.

Aqueles que acham que a China vai parar por aí estão enganados. Os Estados Unidos das Américas, que se diz a maior potência do mundo, podem se preparar, porque em um tempo muito rápido a China se tornará a maior potência do mundo, e sendo um país comunista, para a nossa felicidade e para tristeza do capitalismo.

Qual a importância desse intercâmbio para a parceria Brasil-China?

A importância é que vamos nos aproximar de tudo o que a China está fazendo de bom, e o mais importante, é que o governo chinês, as universidade chinesas, as empresas chinesas estão querendo fazer parcerias com o nosso país, com o nosso governo, especialmente, com o MST, com PT, e isso, para nós, é muito importante.

E essa troca do que nós temos de bom no Brasil, na reforma agrária popular, nas experiências que o MST tem em seus territórios, de muitas coisas boas, que a gente possa trocar também um pouco com o povo chinês. Essa troca de conhecimento, de saberes, de solidariedade que temos hoje e que precisa ser resgatada cada vez mais no mundo é algo que eu considero que precisa ser preservada.

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