A tradição de curar com as plantas atravessa gerações no Brasil, fortalecendo nossas raízes indígenas e africanas. Essas práticas ancestrais sobrevivem no tempo e agora podem ganhar ainda mais espaço no Sistema Único de Saúde (SUS). Em Pernambuco, um Projeto de Lei quer instituir o Programa de Farmácias Vivas como política pública estadual, ampliando o acesso a fitoterápicos de forma segura e acessível.
Em Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana do Recife, Edilza Lima cultiva ervas medicinais em um espaço que vai muito além de um simples jardim. Idealizadora do projeto Maneirartes, ela coordena um quintal produtivo que se tornou referência em fitoterapia. Ali, plantas medicinais são transformadas em tinturas, óleos, sabonetes e pomadas utilizadas na prevenção e tratamento de doenças, com base no conhecimento popular e que depois vão para nas principais feiras agroecológicas do Recife.
“As plantas me levam à memória da minha avó Josefa, a dona Moça. Ela me pedia pra buscar ervas para curar frieira, para cuidar da gente com o que vinha da natureza”, conta Edilza. Hoje, seu trabalho simboliza a retomada do conhecimento afro-indígena de sua família e de tantas outras que preservam esse saber.
O conceito das Farmácias Vivas já existe no SUS e busca promover o uso sustentável de plantas medicinais na rede pública de saúde. A ideia é simples: preparar e distribuir fitoterápicos como chás, pomadas e xaropes, garantindo acesso a tratamentos naturais de baixo custo.
“Ter Farmácias Vivas no SUS é garantir que essa sabedoria seja reconhecida e valorizada”
O deputado estadual Doriel Barros (PT) apresentou um Projeto de Lei na Assembleia Legislativa de Pernambuco para formalizar essa prática como uma política pública estadual. A proposta fortalece a fitoterapia como opção terapêutica no SUS, estimulando também a agricultura familiar e agroecológica.
Para a médica sanitarista e pesquisadora da Fiocruz Paulette Cavalcante, a fitoterapia é um modelo de cuidado eficaz e acessível. “É uma forma de cuidado barata, efetiva e com menos efeitos colaterais. Isso empodera a população no seu próprio cuidado”, explica a especialista.
O Ministério da Saúde já apoia iniciativas de Farmácias Vivas em outros estados, destinando recursos para secretarias de saúde que apostam na fitoterapia. Experiências bem-sucedidas já foram registradas em cidades como Betim (MG) e São Luís (MA), e Pernambuco pode seguir esse caminho caso o projeto seja aprovado.
Para Edilza Lima, essa é uma oportunidade de unir ancestralidade e ciência. “A ciência ajuda a nomear as plantas e entender seus usos. Mas a base vem do conhecimento popular. “Ter Farmácias Vivas no SUS é garantir que essa sabedoria seja reconhecida e valorizada”, afirma.
Com o reconhecimento da fitoterapia como política pública, milhares de pessoas poderão ter acesso a tratamentos naturais, promovendo saúde de forma sustentável e resgatando um conhecimento que atravessa gerações.