Nas palavras da artesã Helida Amorim, de Alter do Chão, em Santarém (PA), um carimbó especificamente desperta muita emoção a vida dela e a luta coletiva na região. Um dos refrãos marcantes para a artesã cita:
Sou guerreira surara, eu sou eu sou
Não venha mexer comigo
Que é forte o meu tambor
A música em questão é “Guerreira Surara”, do grupo musical de mulheres indígenas Suraras do Tapajós, também de Alter do Chão. O conjunto que toca carimbó nasceu na Associação de Mulheres Indígenas Suraras Do Tapajós, um coletivo que combate os diversos tipos de violência e racismo no território.
“Surara quer dizer guerreiro ou guerreira em Nheengatu, que é a língua indígena falada aqui no baixo tapajós”, explica Val Munduruku, uma das cantoras do grupo.
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Entre melodias e representatividade, Helida Amorin, fala sobre a música "Guerreira Surara".
"Sou guerreira surara, não venha mexer comigo porque é forte meu tambor. Então é forte a minha luta, é forte a minha crença, é forte o que eu acredito. Isso são elas. E eu me emociono ao falar dessas meninas porque eu acompanho. Eu me sinto muito bem representada. Eu estou a esses anos todos vendo a luta dessas meninas, o desenvolvimento", afirma.
Mulheres e Carimbó
Dona Maria, que dança é essa que a gente dança só
Dona Maria, que dança é essa?
É carimbó, é carimbó
O trecho acima é da música "A dança do Carimbó" do cantor e compositor Pinduca. Ela retrata um pouco do ritmo musical tradicional do Pará, reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil. Seus instrumentos, sua dança e o ritmo são resultados da mistura de influências culturais indígena, negra e ibérica.
“Então a gente tem o básico no nosso musical. A Maraca, curimbó, banjo, violão e as vozes. Tem esse básico, mas aí pode ir incrementando outros instrumentos. Mas essa é a base do carimbó", afirma Jaciara Borari, que também faz parte das Suraras do Tapajós.
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Antes o ritmo era feito somente por homens. Hoje, além do Associação de Mulheres Indígenas Suraras Do Tapajós outro grupos femininos também entraram passo.
Grupo junta arte, cultura e política na luta popular de Alter do Chão (PA) / Arquivo pessoal/Val Munduruku
Para Carolina Pedroso, conhecida na Associação como Carol Arara, o caminho que ela e suas companheiras trazem no carimbó é uma forma de luta e empoderamento das mulheres.
“É uma ferramenta extra de luta que mostra a resistência da mulher, o empoderamento dela, principalmente na letra das nossas composições e também de outras músicas que a gente seleciona para que fortaleça e deixe a nossa mensagem", relata.
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A cantora Jaciara Borari destaca que o grupo Suraras do Tapajós é pioneiro em protagonismo feminino indígena no carimbó.
“Nós somos o primeiro grupo composto somente por mulheres indígenas no carimbó aqui no Brasil.”
Além de levar a cultura tradicional do Pará, o grupo também empodera mulheres a entrar no universo musical e melhorar a autoestima através da música.
“O carimbó antes era composto somente por homens. E também o curimbó, que é o instrumento de pau oco, era tocados somente por homens. Então isso é muito importante para as mulheres. A gente incentiva outras mulheres. Então hoje tem outros grupos de mulheres indígenas formando grupos de carimbó e tocando. Tem esse empoderamento. Então a gente dá esse passo e assim incentivando outras mulheres a estarem também dentro", explica Jacira Borari.
Reportagem de Adrielly Marcelino e supervisão de Daniel Lamir.