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Risco de IST? SUS pode te ajudar no Carnaval e durante o ano todo

Conservadorismo e desinformação aumentam obstáculos para combate e prevenção

O Ministério da Saúde intensificou a campanha de informação, prevenção e tratamento das Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) durante o Carnaval, mas os dados dos últimos anos indicam que as políticas de combate demandam esforços contínuos.

Atualmente, a pasta estima que mais de 1 milhão de pessoas estão vinculadas ao tratamento de HIV/Aids oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS), por exemplo. Em relação à sífilis, os números também são alarmantes. No ano de 2023 foram registrados 242 mil casos

As ISTs não são um problema apenas para o Brasil. Segundo informações da Organização Mundial da Saúde (OMS), a região das Américas apresentou a maior incidência absoluta de sífilis em 2022, com 3,37 milhões de casos, o que representa 42% do total.

Em conversa com o podcast Repórter SUS, o vice-presidente da Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (Abia) e especialista em saúde pública e saúde coletiva, Veriano Terto Júnior, alerta que o combate a esse cenário envolve dois elementos básicos: informação e prevenção combinada.

“Não adianta [o tratamento] estar disponível no SUS se as pessoas não conhecerem. De fato, os maiores obstáculos ainda são o desconhecimento e o estigma. Pior que isso é quando a desinformação vem junto com o estigma”, alerta.

Hoje, o SUS disponibiliza gratuitamente a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) e a Profilaxia Pós-Exposição (PEP). A premissa fundamental é que nenhuma intervenção isolada é suficiente para reduzir novas infecções. O método mais eficaz é aquele que melhor se adapta às necessidades sexuais e de proteção de cada pessoa.

Esses tratamentos combinam diversas estratégias, que vão de intervenções biomédicas a comportamentais e estruturais. Seguindo as premissas já aplicadas no SUS, as ações ocorrem em níveis individual, comunitário e social.

Na entrevista ao podcast, Veriano Terto afirmou que um obstáculo crescente à prevenção e ao combate é o avanço do conservadorismo e a consequente diminuição de espaços de diálogo.

“Nos anos 1990, se aprendia sobre prevenção conversando. Havia informação e conversa. Esses espaços estão diminuindo. Não há muitos lugares onde as pessoas possam falar, dividir dúvidas, receios, anseios e até que ponto elas sabem ou não sabem sobre o assunto. Isso é realmente uma barreira.”

Algumas ISTs integram a lista das chamadas doenças negligenciadas, frequentemente associadas à pobreza e à falta de acesso à informação, serviços de saúde e direitos básicos. As nações que compõem a OMS têm um compromisso de acabar com elas até 2030, como parte dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

Terto ressalta que, no Brasil, as consequência mais cruéis da continuidade da propagação atingem as populações mais vulneráveis

“Além de atingirem a população mais empobrecida e mais marginalizada, é preciso falar sobre a questão da opressão e da violência de gênero, que dificulta a vida das mulheres. Também não podemos deixar de falar na questão do racismo estrutural que existe no país. Para vocês terem uma ideia, a maior parte das pessoas que usam PrEP nas grandes cidades são homens gays brancos e com um nível de escolaridade maior.”

Busque o SUS

Para quem precisa de ajuda por causa de eventual exposição às ISTs no Carnaval – ou em qualquer momento do ano – o SUS oferece uma rede de apoio e serviços. Para acessar essas possibilidades, basta procurar as unidades básicas de atendimento.

A PEP é indicada para pessoas que tiveram relação sexual sem preservativo ou com rompimento da camisinha e se sentem em risco de contaminação pelo HIV. Ela consiste no uso de medicamentos antirretrovirais por 28 dias, devendo ser iniciada o mais rápido possível, preferencialmente em até 72 horas após a exposição.

Também estão disponíveis no sistema as testagens gratuitas para diversas ISTs, como HIV, sífilis, hepatites virais e outras. É importante realizar os exames, mesmo que não haja sintomas aparentes, pois muitas infecções podem ser silenciosas.

Além disso, o diagnóstico precoce permite o tratamento adequado e evita a transmissão para outras pessoas. As unidades também disponibilizam preservativos femininos e masculinos, assim como material informativo para a prevenção.

O Repórter SUS é uma parceria entre o Brasil de Fato e a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, da Fundação Oswaldo Cruz. Novos programas são lançados toda semana. Ouça aqui os episódios anteriores.

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