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‘Quem paga, aparece mais’, diz DJ e pesquisador sobre lógica do streaming

Para curador Alexandre Matias, era digital mudou algumas lógica da produção musical, enquanto manteve outras inalteradas

“O streaming derrubou algumas barreiras, mas a lógica continua sendo a mesma: quem paga, aparece mais”. A reflexão de Alexandre Matias sintetiza parte da conversa que vai ao ar nesta sexta-feira (14) no Sabe Som?. Jornalista, pesquisador, curador e DJ, Matias é fundador do Trabalho Sujo, site dedicado à música e à cultura desde 1995. No episódio, ele e o apresentador Thiago França analisam a ascensão das plataformas de streaming, as distorções do mercado digital e a crescente importância dos espetáculos de música ao vivo.

O papo começa discutindo o domínio do Spotify e a falsa ideia de que ele concentra toda a escuta musical. “Eu também sou muito cético em relação, não só à onipresença do Spotify, mas à onipresença do sertanejo no Spotify que fala ‘ah, é o gênero mais ouvido no Brasil’, porque assim, o Spotify é a rádio e o próprio Ibope…”, analisa Matias, questionando as métricas da plataforma e sua influência na percepção dos gêneros mais populares. “É o que o Spotify quer que as pessoas achem”, provoca Matias.

O jornalista lembra que plataformas como o YouTube e a própria música ao vivo seguem desempenhando papel fundamental na experiência sonora. “A música ao vivo voltou a ter um peso enorme, porque nada substitui a experiência de estar lá, sentir a vibração do som, ver a reação das pessoas. É um outro nível de conexão”, destaca Matias. “E quando vou no meu barbeiro, ele está escutando YouTube. Quando vou no boteco perto de casa, a TV está ligada no YouTube”, exemplifica.

Além disso, Matias destaca a forma como os monopólios do streaming transformaram a lógica de produção musical. “Estamos todos no mar. Uns têm iate, outros, boia de braço. Mas o acesso à água é possível”, compara.

Os discos essenciais de Matias

Na segunda parte da conversa, Alexandre Matias compartilha sua lista de álbuns essenciais lançados nos últimos anos, entre 2020 e 2024, destacando trabalhos que moldaram a cena contemporânea. “Todos esses discos foram lançados ou produzidos no período pandêmico, um momento que mudou tudo, inclusive a nossa cabeça”, pontua.

Entre os escolhidos, estão Sete Estrelas, de Luiza Lian, “um disco que reflete muito o impacto das redes sociais na música”, e Auto da Maravilha, parceria entre Russo Passapusso e Antônio Carlos e Jocáfi, “um encontro de gerações que gerou um dos shows mais vibrantes dos últimos tempos”. O jornalista também cita Bacurí, do Boogarins, que, segundo ele, “representa um retorno ao formato mais direto da banda, sem perder a identidade psicodélica”.

A lista segue com Delta Estácio Blues, de Jussara Marçal, “um disco que reinventa a canção brasileira e explora novas possibilidades sonoras”; Pedra de Selva, de Curumim, “um álbum que reafirma sua maturidade como produtor e artista”; No Tempo das Cruzes, de Negro Leo, “um trabalho que ressignifica a MPB, trazendo um olhar provocativo e desafiador”.

Por fim, ele destaca Nó na Orelha, de Criolo, “um divisor de águas na carreira do rapper, que expandiu suas fronteiras para além do hip-hop”, e Oruam, que, segundo Matias, é “um dos discos que mais sintetiza a nova geração do rap nacional, misturando elementos diversos para criar uma identidade própria”.

A seleção, que passeia entre o eletrônico, o experimental e o popular, pode ser conferida na playlist completa do episódio do Sabe Som? desta semana, disponível no Spotify.

O podcast Sabe Som? vai ao ar toda sexta-feira, às 10h da manhã, nas principais plataformas, como Spotify e YouTube Music.

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